sábado, 9 de fevereiro de 2008

O divisor de águas da música gaúcha


Há quem diga que a música gaúcha divide-se em antes e depois de Mário Barbará. Vencedor da Califórnia da Canção Nativa em 1975 e 1981 com Roda Canto e Desgarrados respectivamente, ele escreve, faz melodias e canta, com seu estilo Música Popular Gaúcha de compor.

No dia 29 de novembro de 2007, Mário Barbará Dornelles recebeu-me no seu apartamento no centro de São Borja. Estava quente, cerca de 32 graus, como é característico da cidade, uma das mais quentes do RS. Há algum tempo sua pauta estava pronta. Faltava-me tempo, em virtude das provas, trabalhos e seminários que a faculdade exige. Ao chegar, sua esposa pediu que eu entrasse. Mário levantava de uma sesta às 18hs, horário que combinamos a entrevista por telefone.
Possui uma humildade característica das pessoas inteligentes e de grande valor. Desprovido da soberba e da arrogância de muitos que não chegam nem aos seus pés, percebe-se que Mário não sabe o quanto sua música e si próprio são importantes para a cultura. Pouco difundido nas emissoras de rádio do estado - eis um dos motivos para o fenômeno de aculturação dos jovens – Mário não se importa com publicidade do seu trabalho ou a fama, sejam freqüentes ou não em sua vida. Participou do Circuito Universitário em julho e agosto/07 nas principais cidades do RS, juntamente com Os Angüeras, Yamandu Costa, Renato Borghetti e Miguel Bicca. Visivelmente gosta de animais de estimação. Cuidava com carinho de um poodle de sua filha, deixado no apartamento para que ela viajasse.
Na sua sala pequena, Mário foi lacônico, mesmo assim, ainda tocamos violão, tomamos mate e procedemos a seguinte entrevista.

Há algum parentesco com Getúlio Vargas?
Sim, existe algum parentesco, mas não sei dizer qual.

Por que motivo afastou-se dos festivais?
Diminuí as composições. Depois de um certo tempo a gente começa a compor menos.

Os festivais viraram indústria?
Penso que sim porque há pessoas que sobrevivem exclusivamente deles.

A música gaúcha está no caminho certo?
Sim, e a música dos festivais é a melhor do Rio Grande do Sul.

Ainda compõe, canta e toca?
Sim.

Que sentimento aflora quanto te vês em apresentações antigas em vídeo, como as do DVD do Galpão Crioulo?
Ah...! Sempre é bom ver né! É muito bom ver.

Um poeta?
Bauer. Rillo.

Um poema?
Roda Canto, Colorada, Era uma vez.

Um cantor?
Pra mim o João de Almeida Neto é o melhor cantor do Rio Grande do Sul.

Uma música sua?
Desgarrados.

Uma música qualquer?
(pensativo) "Cordas de Espinho" do Luiz Coronel.

Existem novos Rillo’s e Napp’s?
Sim, existem. Temos novos poetas tão bons quanto eles. Rodrigo Bauer, Gujo Teixeira e Mauro Ferreira são exemplos disto.

Quantos discos tens gravado?
Tenho um LP e dois CDs.

Tens gravado?
Sim. Ano retrasado gravei o CD “Equilíbrio”.

Conte como surgiram suas principais canções, como: Desgarrados, Onde o Cantor Expõe as Razões do seu Canto, Roda Canto e Xote da Amizade.
Algumas canções eu demoro, outras são rápidas. “Desgarrados” eu compus com muita rapidez. Foi um momento feliz onde peguei o violão e ela saiu, simplesmente. “Onde o cantor expõe a razão do seu canto” demorou um pouco, assim como “Roda Canto”. “Xote da Amizade” compus em Porto Alegre, foi bem rápido também.


Marco Antônio Loguércio (letrista e genro de Rillo) disse que a música gaúcha divide-se em antes e depois de Mário Bárbara. Qual sua opinião?
Ah, ele disse isto é?! Pois eu fico muito feliz de ser considerado o divisor de águas da música gaúcha, inclusive por nomes expressivos como Luiz Carlos Borges, porque eu sempre tentei fazer uma música muito minha.

O que é mais importante na música, a técnica ou o sentimento?
(dúvida) Acho que a música é antes de tudo sentimento. Podendo aliar, melhor.

Que música o Mário Barbará escuta e gosta?
Tenho escutado Marco Aurélio Vasconcellos, Jean Garfünkel, Chico Buarque, Marcello Caminha, Beattles. Escuto bastante coisa diversificada.

Como é a sua vida hoje?
Quando posso, faço shows. A atividade pecuária me toma um bom tempo também.

Gremista ou Colorado?
Sou gremista.

O que gosta de comer?
Churrasco, lasanha.

Nas horas vagas, o que gosta de fazer?
Olhar DVDs musicais.

Quantas músicas tens gravada?
Setenta ou oitenta eu acho.

Qual primeiro festival que participaste e com que idade?
Foi um festival de músicas carnavalescas com 17 anos. Foi um horror. Na Califórnia participei da 3ª edição com a música Nosso Chão.

Ainda vai a Barranca?
Sim, todos os anos.

Acompanha o cenário político nacional atualmente?
Mais ou menos.

Qual sua opinião sobre o Senador Renan Calheiros?
Bah!

Qual seu posicionamento político?
Não tenho partido político, sou centrista.

Sua opinião sobre o MST?
O MST ninguém agüenta.

Satisfeito com o governo Lula?
Não muito satisfeito. Muito imposto.

2 comentários:

Unknown disse...

muito boa a sua entrevista com esse cara que é um icone da musica nativista ,um cara humilde que faz sucesso e não ta toda hora na midia só quem conhace sabe ,valeu...abraços.DARCI BARBOSA.VIAMÃO-RS

Zé Mariath disse...

A genialidade na simplicidade! A divulgação da obra do Mário Barbará deveria ser intensificada, por sua linguagem universal, sem ranços ou estereótipos...
Que se ouça o seu canto...Nas cordas do coração...
Zé Mariath.